Na ONU, Lula cobra ‘justiça climática’ e propõe novo conselho global para o clima

Presidente brasileiro afirma que a COP 30 será a 'COP da verdade'; o secretário-geral da ONU, António Guterres disse que combustíveis fósseis são 'aposta perdida'

Lula faz pronunciamento na Assembleia Geral da ONU

Na abertura da Assembleia Geral da ONU em Nova York, nesta terça-feira (23), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o secretário-geral António Guterres proferiram discursos contundentes que definiram um tom de urgência e cobrança para as negociações climáticas, elevando as expectativas para a COP30, que será realizada em Belém, no Brasil. Enquanto Lula classificou a cúpula como a “COP da verdade”, Guterres afirmou que os combustíveis fósseis são uma “aposta perdida”.

  • ‘COP da Verdade’: o presidente Lula afirmou que a COP30 será o momento para os líderes mundiais provarem seu compromisso real com o clima, cobrando a apresentação das metas climáticas (NDCs) de todos os países.
  • Justiça Climática: ambos os líderes defenderam o princípio da justiça climática, argumentando que os países ricos, que se industrializaram ao longo de 200 anos, têm maior responsabilidade histórica e devem fornecer mais recursos e tecnologia.
  • Fim dos Fósseis: Guterres foi enfático ao declarar os combustíveis fósseis “uma aposta perdida”, destacando que as energias renováveis já são a fonte de energia mais barata e rápida.
  • Reforma do Multilateralismo: Lula propôs a criação de um conselho na ONU, vinculado à Assembleia Geral, com força para monitorar os compromissos climáticos, como parte de uma reforma mais ampla do sistema multilateral.

Lula cobra ‘justiça’ e propõe novo modelo de governança

O presidente brasileiro posicionou o país como uma liderança do Sul Global, cobrando responsabilidade das nações desenvolvidas. “Aqueles que enriqueceram com padrões de vida obtidos ao longo de 200 anos de industrialização precisam assumir maior responsabilidade”, declarou Lula, afirmando que o apoio aos países em desenvolvimento “não se trata de caridade. Trata-se de justiça.”

Ele alertou que, sem um quadro completo das metas climáticas de cada país, o mundo caminha “de olhos vendados rumo a um verdadeiro abismo”. Ao mesmo tempo, apresentou os avanços do Brasil, como a redução do desmatamento na Amazônia pela metade nos últimos dois anos e o compromisso de cortar as emissões de gases de efeito estufa entre 59% e 77%. Para o futuro, Lula mencionou o fundo “Florestas Tropicais para Sempre”, que o Brasil pretende lançar para remunerar a conservação.

Sua proposta mais contundente foi a defesa de uma reforma na governança global, com a criação de “um conselho vinculado à Assembleia Geral, com legitimidade e força para monitorar compromissos climáticos”.

Guterres: “A janela está se fechando”

Ecoando a urgência de Lula, o Secretário-Geral António Guterres alertou que, embora a ciência ainda veja como possível limitar o aquecimento a 1,5 °C, “a janela está se fechando”. Ele criticou duramente a inação, destacando que os subsídios para combustíveis fósseis ainda superam os de energia limpa na proporção de 9 para 1.

“Os combustíveis fósseis são uma aposta perdida”, afirmou Guterres. “As renováveis são a fonte mais barata e rápida de nova energia. Elas criam empregos, impulsionam o crescimento e podem nos libertar da tirania dos combustíveis fósseis.”

Para a COP30, Guterres estabeleceu uma agenda clara: acelerar a descarbonização, mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano em financiamento climático e capitalizar o fundo de perdas e danos com “contribuições significativas”.

Reações: apoio à implementação e críticas à política de petróleo

As falas foram bem recebidas por figuras-chave. Ana Toni, Diretora Executiva da COP30, elogiou o foco de Lula na implementação. “Lula não só cobrou as NDCs dos países, mas também reforçou a necessidade de passarmos agora para uma fase de implementação e aceleração, colocando o tema no coração das Nações Unidas”, disse.

No entanto, a organização socioambiental 350.org apontou uma contradição no discurso brasileiro. Em nota, a entidade elogiou a defesa da justiça climática, mas alertou que a contínua exploração de petróleo na Amazônia “ameaça a liderança do Brasil na COP30”, questionando a coerência entre o discurso e a prática do governo.