Arquiteto morto em acidente de avião criou as ‘cidades-esponja’; entenda o conceito

Arquiteto morto em acidente de avião criou as

O arquiteto e paisagista chinês Kongjan Yu, considerado um dos maiores arquitetos do mundo e pai do conceito de “cidades-esponja”, morreu nesta quarta-feira, 24. Ele e outras três pessoas estavam a bordo de uma aeronave que caiu na zona rural de Aquidauana, Pantanal de Mato Grosso do Sul. Não há sobreviventes.

O chinês foi recentemente uma das principais atrações da Bienal de Arquitetura, que acontece em São Paulo. Yu palestrou na abertura do evento, no dia 19 de setembro, e depois seguiu ao Pantanal sul-mato-grossense para conhecer a região.

No aeronave também estava o cineasta Luiz Ferraz, que acompanhava o arquiteto para gravar um documentário sobre as “cidades-esponja”, desenhadas para absorver um grande volume de água e assim minimizar os impactos das chuvas fortes com uma série de medidas:

• Criação de áreas verdes permeáveis,
• Implantação de sistemas de drenagem,
• Reutilização da água da chuva.

A noção de “cidade-espoja” ganhou força depois de uma tragédia em Pequim no ano de 2012, quando chuvas intensas provocaram a morte de cerca de 80 pessoas. Na ocasião, a “Cidade Proibida” — construída séculos antes com um sofisticado sistema de drenagem — permaneceu seca.

O episódio reforçou a crítica de Yu de que as cidades modernas dependem muito de infraestrutura de concreto, canos e bombas, mas negligenciam soluções naturais que permitem à água infiltrar no solo. A partir dessa tragédia, a China passou a investir fortemente em projetos da “cidades-esponja”.

Por meio de nota, o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante, lamentou o ocorrido e ressaltou que o arquiteto chinês esteve na sede do banco, no Rio de Janeiro, em junho de 2024, para ” debater as experiências internacionais na reconstrução de cidades, especialmente em razão da catástrofe climática que abateu o Rio Grande do Sul“.

“Manifesto publicamente minha solidariedade a todos os familiares e admiradores do trabalho de Kongjian Yu. Estendo meus cumprimentos aos familiares e amigos dos cineastas e documentaristas brasileiros Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e Rubens Crispim Jr. e do piloto Marcelo Pereira de Barros, também vitimados pelo acidente”, finalizou.

Quem era o arquiteto

Kongjan Yu nasceu em 1963 na na vila Dongyu, Jinhua, província de Zhejiang, China, em uma família de agricultores. Ele era professora da Universidade de Pequim e diretor do escritório de arquitetura paisagística Turenscape, um dos maiores do mundo, fundado em 1998.

Segundo o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU), o chinês acumulou mais de 20 livros publicados e mais de 300 artigos científicos. “Seu trabalho recebeu prêmios internacionais, como o IFLA Sir Geoffrey Jellicoe Award (2020), o Cooper Hewitt National Design Award (2023) e o RAIC International Prize (2025)”, disse.

Também era editor-chefe da Landscape Architecture Frontiers e possuía doutorados honorários de universidades na Itália e na Noruega.

Graduado na Universidade Florestal de Beijing e doutor pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, ele afirmava que era necessário adaptar-se à água, não confrontá-la, inspirando-se nos agricultores de sua infância que criavam terraços e lagos nas montanhas, vivendo em harmonia com a água.

*Com Estadão Conteúdo