A um mês da COP30, Marcha das Mulheres Negras lança Manifesto por Justiça Climática

Manifesto discute importância da voz de mulheres negras, quilombolas e de comunidades tradicionais

Carolina da Mata
Marcha das Mulheres Negra lança Comitê para Justiça Climática Foto: Carolina da Mata

Às vésperas da COP30, Conferência do Clima da ONU que acontecerá em Belém (PA), mulheres negras de diferentes territórios e trajetórias lançaram o Comitê e o Manifesto Político das Mulheres Negras por Justiça Climática. O encontro aconteceu no Auditório do Ministério Público Federal (MPF-PA), na última sexta-feira, 10, em meio aos preparativos para o Círio de Nazaré, uma das maiores manifestações de fé do país

A cidade foi duplamente tomada por força e ancestralidade e mulheres negras afirmaram que “não há justiça climática sem justiça racial e de gênero”. A ocasião também marcou mais um passo rumo à Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver 2025, que será realizada no dia 25 de novembro, em Brasília (DF).

“O lançamento do Comitê simboliza a força de um movimento que sempre esteve à frente das lutas em defesa dos territórios”, afirmou Naiara Leite, coordenadora executiva do Odara – Instituto da Mulher Negra e integrante do Comitê Nacional da Marcha.

“Nós, mulheres negras, defendemos nossos espaços desde sempre – nas comunidades, nas casas de axé, nas ruas. É natural que estejamos no centro das decisões sobre clima, porque é do nosso lugar que esse debate precisa partir”, completou.

A pesquisadora Thainara Gomes, do Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC), também presente no evento, ressaltou que as mulheres negras estão tanto na linha de frente das vulnerabilidades quanto das soluções. “Sempre precisamos inventar arranjos sociais, econômicos e territoriais para sobreviver. Por isso, também somos quem mais inova e cria respostas diante da crise”, afirmou. Dados da Oxfam Brasil indicam que em 2023, cerca de 67% das pessoas que vivem em áreas de risco ambiental no país eram negras.

Ainda durante o lançamento, a Amazônia negra foi destacada como eixo central da luta. “O mundo precisa entender que pensar a Amazônia é pensar nas vidas humanas e nas identidades que formam esse território”, observou Jane Neves, da Rede Fulanas – Negras da Amazônia e do Comitê Nacional da Marcha.

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Flávia Ribeiro, do Comitê Impulsor da Marcha no Pará, enfatizou que é hora de reeducar o olhar sobre a região: “Nós estamos aqui, produzimos aqui e sentimos os efeitos da crise climática todos os dias. É dessa vivência que queremos falar – de uma Amazônia negra que pensa e propõe justiça climática desde o chão em que pisa.”

O Manifesto reforça que não é possível discutir transição ecológica sem considerar a voz das mulheres negras, quilombolas e de comunidades tradicionais. Construído a partir da contribuição de dezenas de organizações e ativistas, o documento também propõe caminhos: do financiamento climático antirracista à construção de políticas públicas que garantam ar limpo, água potável, comida saudável e dignidade para povos negros, indígenas e periféricos.