Baixa reciclabilidade de plásticos penaliza catadores e gera prejuízo no RJ

Estudo da UFF e do IDC revela que 82% das embalagens descartadas vêm da indústria alimentícia; trabalhadores perdem dois dias de serviço por mês com materiais sem valor de mercado

Cooperativa de catadores no Rio de Janeiro
Cooperativa de catadores no Rio de Janeiro Foto: Edmar Chaperman/Funasa/Divulgação

Uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira, 22 de dezembro, revela o impacto econômico e social da ineficiência da indústria de embalagens no Rio de Janeiro. O estudo, conduzido pelo Instituto de Direito Coletivo (IDC) e pela Universidade Federal Fluminense (UFF), aponta que a baixa reciclabilidade de plásticos sobrecarrega cooperativas de catadores, resultando em perdas financeiras e desperdício de tempo de trabalho.

  • Desperdício de tempo: em média, os catadores perdem 16 horas mensais — o equivalente a dois dias de trabalho — na triagem de plásticos que não possuem retorno financeiro.

  • Perfil social: a categoria é composta majoritariamente por mulheres (68,5%) e pessoas pardas (58,7%), evidenciando a vulnerabilidade dos trabalhadores afetados pela falta de logística reversa.

  • Perda financeira: cooperativas deixam de arrecadar até R$ 3.771,72 mensais por conta de materiais que, embora tecnicamente recicláveis, são rejeitados pelo mercado ou carecem de viabilidade logística.

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O custo do ‘lixo’ da indústria alimentícia

A auditoria analisou 533 embalagens plásticas classificadas como rejeitos e constatou que 82% são oriundas da indústria alimentícia. Entre os materiais mais problemáticos estão as embalagens metalizadas (Bopp), usadas em snacks e biscoitos, que representam 36,5% dos rejeitos. Além disso, 33,4% das embalagens sequer possuem o código de identificação de reciclagem, dificultando qualquer tentativa de reaproveitamento.

Seis grupos empresariais concentram quase 30% das embalagens rejeitadas no estado: Mondelez International, M. Dias Branco, Pepsico, Nestlé, Bimbo e Capricche. Para a presidente do IDC, Tatiana Bastos, o setor precisa repensar o design de seus produtos. “As empresas precisam repensar o impacto que causam. É urgente cobrar das indústrias que colocam essas embalagens em circulação”, afirma.

“Os catadores precisam receber pelo serviço ambiental prestado e não só pelo peso do resíduo. O pet reciclado não está indo para o rio e isso precisa ser valorizado.”

Tatiana Bastos, presidente do IDC

Fiscalização e gestão de resíduos

O estudo reforça a necessidade de aplicação rigorosa da Lei 12.305/2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos). Segundo os pesquisadores, a distância entre a legislação e a prática favorece o descarte inadequado em aterros, ignorando o potencial de recuperação de materiais.

A solução proposta passa pela responsabilização direta da indústria, investimentos em design circular e o fortalecimento de políticas públicas que remunerem os catadores pelo serviço ambiental. Atualmente, a gestão de resíduos no Rio de Janeiro depende fundamentalmente do trabalho dessas 20 organizações auditadas nas regiões metropolitana, sul e Costa Verde, que continuam a operar sob precariedade financeira.

Com informações da Agência Brasil