China subestima potencial climático com novas metas para 2035

Anúncio de Xi Jinping na ONU é criticado como insuficiente para atingir objetivos do Acordo de Paris

O presidente da China, Xi Jinping, profere um discurso por vídeo na Cúpula do Clima da ONU de 2025
O presidente da China, Xi Jinping, profere um discurso por vídeo na Cúpula do Clima da ONU de 2025 Foto: AFP

A China anunciou na quarta-feira (24) sua nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) para 2035, comprometendo-se a reduzir entre 7% e 10% suas emissões de gases de efeito estufa em relação aos níveis máximos. O anúncio foi feito pelo presidente Xi Jinping durante a cúpula climática da ONU em Nova York, um dia após o presidente americano Donald Trump ter chamado as mudanças climáticas de “a maior farsa do mundo”.

A nova meta chinesa marca pela primeira vez o estabelecimento de reduções absolutas de emissões, abandonando os objetivos anteriores baseados na intensidade energética. Contudo, especialistas internacionais consideram os números insuficientes para manter viva a meta global de limitar o aquecimento a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

Atualmente, a China é o maior emissor global de gases de efeito estufa. O país responde por cerca de um terço das emissões anuais globais. Embora suas emissões históricas representem 15% do total mundial – menor que as dos países desenvolvidos -, sua posição como maior poluidor atual a coloca no centro das discussões climáticas. Uma redução de 10% nas emissões chinesas equivaleria, em termos absolutos, a mais do que muitos países emitem individualmente por ano.

Ceticismo internacional e contexto da COP30

Tracy Carty, especialista em políticas climáticas do Greenpeace Internacional, criticou duramente o anúncio: “Os EUA estão ausentes. A China e a UE não conseguiram elevar suficientemente as ambições uma da outra”, disse ao Climate Home News. A União Europeia, por sua vez, anunciou apenas que sua meta de redução para 2035 ficará entre 66% e 72% em relação aos níveis de 1990, sem conseguir ser mais específica devido a divergências internas.

O Climate Action Tracker, organização que monitora as políticas climáticas globais, foi ainda mais crítico: “É improvável que a nova meta impulsione reduções de emissões, já que a China está preparada para atingir esse objetivo com as políticas que já tem em vigor”, afirmou Norah Zhang, analista responsável pela China do NewClimate Institute.

O anúncio ganha relevância especial com a aproximação da COP30, que será realizada em Belém em 2025. A conferência climática é considerada crucial para acelerar os esforços globais contra o aquecimento, especialmente após a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris sob a administração Trump.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), as emissões globais precisam cair 7,6% ao ano até 2030 para manter o mundo no caminho de 1,5°C. A contribuição chinesa, mesmo com redução de 10%, representaria apenas cerca de 6% das reduções anuais globais necessárias, conforme análise da revista Down to Earth.

Capacidade subutilizada e expectativas

O paradoxo da situação é que a China possui capacidade técnica e financeira para metas muito mais ousadas. O país lidera a transição energética global, controlando 80% da fabricação de painéis solares, 60% das turbinas eólicas e 75% dos veículos elétricos mundiais, segundo dados da Reuters.

Lauri Myllyvirta, cofundador do Centro de Pesquisa sobre Energia e Ar Limpo (CREA, na sigla em inglês) – organização independente com sede em Helsinki que analisa tendências de poluição do ar e energia na Ásia -, calculou que atingir a meta chinesa de 3.600 gigawatts de capacidade solar e eólica até 2035 exigiria adicionar apenas 200 GW por ano – 44% menos que os 360 GW instalados em 2024.

“A China está escondendo sua ambição e sucessos climáticos”, escreveu o analista Antony Currie na Reuters, destacando que os veículos elétricos já representam cerca de metade das vendas de carros novos no país, o que torna redundante a meta de torná-los “predominantes” na próxima década.

Enquanto organizações ambientais manifestaram desapontamento, alguns especialistas mantêm certo otimismo. A ex-conselheira climática do presidente Biden, Gina McCarthy, elogiou os líderes mundiais por apresentarem “planos climáticos atualizados que se alinham com os objetivos do Acordo de Paris”.

O anúncio acontece em momento crítico: dados mostram que as emissões chinesas podem ter atingido o pico em 2025, com queda de 1% no primeiro semestre em relação ao ano anterior, impulsionada pelo crescimento da energia limpa.

Com apenas 53 governos – representando um quarto das emissões globais – tendo apresentado suas NDCs até o momento, cresce a pressão sobre os demais países para apresentarem metas mais ambiciosas antes da COP30.