De Nova York a Singapura: as lições das cidades que estão vencendo as ilhas de calor

Mulher combate calor na cidade borrifando água sobre o próprio rosto

Metrópoles ao redor do mundo estão se tornando armadilhas de calor. O fenômeno, conhecido como “ilha de calor urbana”, faz com que centros urbanos fiquem até 15°C mais quentes que seus arredores rurais, intensificando ondas de calor e colocando em risco a saúde de uma população que, até 2050, representará 70% do total mundial.

  • O que são: áreas urbanas que, devido à concentração de asfalto, concreto e atividade humana, absorvem e retêm muito mais calor que áreas rurais.
  • Causas: substituição de vegetação por superfícies escuras e impermeáveis, prédios altos que bloqueiam o vento (“cânions urbanos”) e poluição que retém o ar quente.
  • Consequências: agravamento de ondas de calor, riscos à saúde, aumento da demanda por ar-condicionado e, consequentemente, maior consumo de energia e emissão de gases de efeito estufa.
  • Soluções: adoção de telhados e pavimentos frios (reflexivos), aumento de áreas verdes, criação de corpos d’água e planejamento urbano inteligente.

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Por que as cidades fervem?

Diferente das áreas rurais, cobertas por vegetação que funciona como um ar-condicionado natural, as cidades são dominadas por concreto e asfalto. Essas superfícies escuras e impermeáveis absorvem a radiação solar durante o dia e liberam esse calor lentamente à noite, mantendo as temperaturas elevadas mesmo após o pôr do sol.

Some-se a isso a arquitetura urbana: prédios altos e ruas estreitas formam “cânions urbanos” que aprisionam o ar quente e bloqueiam a circulação do vento. A poluição de veículos e indústrias agrava o cenário, criando uma cúpula de gases que retém o calor sobre a cidade, em um efeito estufa localizado.

Círculo vicioso

As ilhas de calor não apenas tornam as cidades desconfortáveis; elas criam um perigoso círculo vicioso. Temperaturas mais altas levam a um aumento drástico na demanda por ar-condicionado. Em muitas redes elétricas, essa energia extra é gerada pela queima de combustíveis fósseis, o que libera mais gases de efeito estufa na atmosfera, agravando ainda mais as mudanças climáticas globais.

Soluções verdes e inteligentes

Felizmente, existem soluções eficazes para resfriar nossas cidades, e exemplos práticos já estão em andamento globalmente:

  • Superfícies Frias: a estratégia mais direta é substituir o que é escuro por superfícies claras e reflexivas. Cidades como Nova York adotaram programas para pintar telhados de branco, reduzindo a temperatura interna dos edifícios em até 30%. Los Angeles e Tóquio estão investindo em “pavimentos frios”, utilizando materiais que refletem a luz solar em vez de absorvê-la.
  • Infraestrutura Verde: aumentar a cobertura vegetal é fundamental. A cidade-estado de Singapura tornou-se um exemplo mundial, com mais de 40% de seu território coberto por parques, jardins e telhados verdes. A meta da cidade é que, até 2030, todo cidadão esteja a, no máximo, dez minutos de um parque.
  • O Poder da Água: a água também é uma aliada. No Japão, a prática tradicional do “uchimizu” (borrifar água nas calçadas) ajuda a reduzir a temperatura do solo por meio da evaporação. A criação de fontes e lagos em parques urbanos tem um efeito similar.
  • Planejamento e Mobilidade: cidades como Singapura também atuam na fonte do problema, limitando rigorosamente o número de carros em circulação por meio de um sistema de cotas, o que reduz a poluição e a emissão de calor.

A luta contra as ilhas de calor é uma frente crucial na adaptação às mudanças climáticas, transformando nossas cidades em lugares não apenas mais frescos, mas também mais saudáveis, sustentáveis e resilientes.

Casos de Sucesso: Soluções no Mundo Real

1. Nova York, EUA: a estratégia dos telhados frios

Desde 2009, Nova York implementou o programa “CoolRoofs”, que incentiva a pintura de telhados com uma tinta branca reflexiva. A solução é simples, de baixo custo e altamente eficaz: um telhado branco pode refletir de 60% a 90% da luz solar, reduzindo a absorção de calor e diminuindo a temperatura interna dos edifícios em até 30%. A iniciativa ajuda a baixar a demanda por ar-condicionado, economizando energia e reduzindo emissões.


2. Los Angeles e Tóquio: o caminho dos pavimentos frios

Para combater o calor que irradia do asfalto, megacidades como Los Angeles e Tóquio estão investindo em “pavimentos frios”. A técnica consiste em aplicar um revestimento de cor mais clara e reflexiva sobre as ruas. Um estudo em Los Angeles confirmou que a medida é eficaz na redução do efeito de ilha de calor. Tóquio já instalou cerca de 200 quilômetros dessas calçadas e tem a meta de chegar a 245 quilômetros até 2030, priorizando as áreas centrais mais densas.


3. Singapura: a cidade-jardim bioclimática

A pequena cidade-estado de Singapura é um exemplo global de planejamento urbano verde. Com mais de 40% de seu território coberto por vegetação, o país integrou parques, reservas naturais e jardins verticais à sua paisagem urbana. O objetivo é que, até 2030, cada cidadão viva a no máximo 10 minutos de caminhada de um parque. Além do verde, a cidade limita rigorosamente o número de carros nas ruas, atacando tanto a emissão de calor quanto a poluição do ar.