Finanças verdes e mercado de conservação abrem oportunidades para o agro

Créditos de carbono, PSA e integração lavoura-pecuária-floresta criam fontes de renda para quem conserva

Finanças verdes e mercado de conservação abrem oportunidades para o agro

Proteger florestas e transformar sistemas produtivos rurais são passos decisivos para o Brasil cumprir suas metas climáticas. O setor de uso da terra — que inclui agropecuária e mudança de cobertura vegetal — responde pela maior parcela das emissões nacionais de gases de efeito estufa. Para Andreia Bonzo, advogada e colíder do Grupo de Trabalho Clima da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, há um caminho para transformar a conservação em fonte de renda. “Quando falamos de mercado de conservação, temos um potencial gigantesco”, afirma.

Há dez anos, a Coalizão articula setores que defendem a compatibilidade entre produção e conservação. “A atividade rural pode ser uma base para a conservação e vice-versa. Elas se suportam, até porque se há uma área degradada, há prejuízo no cultivo”, explica Bonzo. Por outro lado, áreas conservadas mantêm serviços como regulação do ciclo da água e proteção do solo, benefícios que retornam ao produtor.

A tecnologia aparece como fator de transformação nesse cenário. Consultora de bancos multilaterais, Bonzo destaca o papel das inovações na transição para uma produção mais sustentável. “A tecnologia pode ser um game changer para fazer com que a escala de produção assegure a segurança alimentar ao mesmo tempo em que há diminuição do percentual de conversão de uso do solo e recuperação de pastagens degradadas”, afirma. Monitoramento por dados, agricultura de precisão e irrigação mais eficiente permitem produzir mais sem expandir a área cultivada.

O mercado de conservação propõe remunerar quem mantém vegetação nativa ou adota sistemas de baixa emissão de carbono. Um exemplo é a integração lavoura-pecuária-floresta, em que a mesma área combina agricultura, pecuária e árvores em rotação ou consórcio. “Na reserva legal ou em uma área conservada de conexão, você aumenta os efeitos daquela conservação. É possível gerar crédito para complementar a renda”, explica a colíder do GT Clima.

No centro dessa discussão estão as finanças verdes. Uma força-tarefa da Coalizão trabalha com taxonomia — critérios para classificar atividades econômicas como sustentáveis. “Como os bancos conseguem puxar essa cadeia positiva? Como vamos fazer as métricas? Como vamos reportar isso?”, questiona a advogada. Métricas, formas de reporte e criação de produtos financeiros adequados estão em pauta entre instituições públicas e privadas que buscam direcionar capital para atividades de baixo carbono.

Instrumentos como o Plano Safra e o Plano ABC disponibilizam recursos para a produção sustentável. Acessar esses recursos, porém, depende de conhecimento. “O ATER é um recurso de educação, de mostrar como podemos ser mais sustentáveis na produção rural”, destaca Bonzo sobre a Assistência Técnica e Extensão Rural. Por isso, a Coalizão considera a assistência técnica uma de suas agendas prioritárias.

A silvicultura de espécies nativas é outra frente. Diferente da silvicultura de exóticas, voltada para produção de celulose em larga escala, ela permite explorar recursos florestais mantendo os serviços que essas árvores prestam à região — como proteção de nascentes e manutenção da biodiversidade. “Como podemos explorar esse recurso nacional de forma sustentável e assegurando os outros serviços ecossistêmicos que essas nativas prestam para a localidade?”, provoca Bonzo. Combinado com outras atividades, o cultivo de nativas pode gerar múltiplas fontes de renda na mesma propriedade.

O Brasil tem extensas áreas de pastagens degradadas que podem virar florestas ou sistemas mais produtivos. Essa restauração compõe o mercado de conservação e representa uma oportunidade econômica. “Precisamos dos nomes dessas áreas para que possamos destiná-las corretamente, restaurá-las, conservá-las”, explica a advogada. Recuperar o que foi degradado é uma das agendas de avanço da Coalizão na última década.

Por meio do pagamento por serviços ambientais (PSA), proprietários rurais podem ser remunerados por manter nascentes protegidas ou conservar a biodiversidade. Combinado com o mercado de carbono, o instrumento amplia as possibilidades de renda para quem conserva. “Tem todos os instrumentos no Código Florestal. Eles combinados com outros, por exemplo, o PSA, podem trazer renda”, afirma Bonzo. Com essas ferramentas já disponíveis, o Brasil tem a chance de transformar conservação em negócio — e provar que produzir e preservar podem caminhar juntos.