O que começou como uma estratégia de sobrevivência jurídica transformou-se em um dos maiores exemplos de economia circular e segurança alimentar em São Paulo. Na Vila Nova Esperança, zona oeste da capital, a líder comunitária Maria de Lourdes Andrade Silva, a Lia, liderou a transformação de lixões em uma horta produtiva que hoje alimenta mais de 200 crianças diariamente. O projeto rendeu à comunidade o apelido de “Favela Verde“, mas a permanência dos moradores ainda é alvo de disputa.
Segurança alimentar: a horta fornece alimentos frescos e orgânicos gratuitamente para as crianças da comunidade desde 2013.
Resistência ambiental: o projeto surgiu após o Ministério Público pedir a desocupação da área por degradação; os moradores responderam limpando o lixo e reflorestando o local.
Vitória judicial: comprovada a gestão sustentável, a Justiça permitiu a permanência das famílias, embora a CDHU (dona do terreno) ainda insista na remoção.
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Do lixo à soberania alimentar
A história da Vila Nova Esperança mudou em 2011, quando uma ordem de despejo alegou que a comunidade degradava o meio ambiente. Diante da ausência de serviços públicos de limpeza, a própria comunidade assumiu a gestão do lixo. “Temos espaço ali que está cheio de lixo. Vamos limpar esse espaço e fazer uma horta?”, propôs Lia aos vizinhos na época.
O sucesso foi tanto que a prefeitura, após o reconhecimento internacional da “favela verde”, finalmente viabilizou o saneamento básico para parte da área. Para Lia, o impacto vai além dos vegetais: “Esta horta trouxe para a gente segurança alimentar, empreendedorismo e também mais união”.
Uma disputa sem justificativa
Apesar do reconhecimento e do prêmio de desenvolvimento social, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) mantém o pedido de remoção das 650 famílias. Para a advogada Juliana Avanci, a insistência é injustificada: “Todos os argumentos utilizados para tentar justificar a remoção foram desconstruídos ao longo do tempo”.
O caso da Vila Nova Esperança tornou-se um marco para o urbanismo social, demonstrando que a integração entre habitação popular e preservação ambiental não é apenas possível, mas uma solução eficaz para a gestão de áreas de risco e proteção de mananciais nas grandes cidades brasileiras.