A inteligência artificial deixou de ser uma promessa futura para se tornar uma ferramenta cotidiana para engenheiros, arquitetos e planejadores. De acordo com Tom Wilcock, especialista da consultoria global Arup, a adoção estratégica da IA, aliada a uma cultura de experimentação ciente dos riscos, é fundamental para que o setor da construção civil e do ambiente construído solucione desafios urgentes, como a crise climática e a descarbonização.
Desde a popularização de plataformas como o ChatGPT, há cerca de dois anos, a IA foi integrada rapidamente aos processos centrais da indústria. “A discussão mudou. Não se trata mais de usar ou não a IA, mas de quão bem a utilizamos”, afirma Wilcock.
Uma pesquisa organizada pela Arup com 5.000 profissionais do setor mostrou que um terço dos engenheiros e arquitetos no Reino Unido já utiliza a IA diariamente, aplicando-a em projetos ligados à ação climática e à biodiversidade.
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Soluções para desafios climáticos
Na realidade, a tecnologia já está remodelando cidades e infraestruturas. Ferramentas de IA, combinadas com imagens de satélite e aprendizado de máquina, permitem que planejadores urbanos desenvolvam novas abordagens para a gestão de água e combate às ilhas de calor. Essas soluções – que vão desde o plantio de árvores à gestão de bacias hidrográficas – apoiam a criação de infraestruturas que não apenas minimizam danos, mas contribuem ativamente para o meio ambiente e a adaptação urbana.
Já no campo da descarbonização, a IA otimiza o uso de materiais desde a fase inicial do projeto, reduzindo o “carbono incorporado”, uma das maiores fontes de emissão do setor. Além disso, análises avançadas permitem avaliar a integridade de estruturas existentes, como pontes e parques eólicos, aumentando sua vida útil e poupando novas construções.
Uma nova geração de profissionais
A acessibilidade de ferramentas de IA também está transformando o perfil dos novos profissionais. Trabalhadores agora podem testar ideias, criar protótipos e tomar decisões baseadas em dados de forma quase instantânea, de maneira colaborativa e multidisciplinar.
“Essas ferramentas não estão substituindo a criatividade; elas a estão amplificando”, destaca Wilcock. Segundo ele, isso inspira uma nova onda de talentos a pensar de forma mais sistêmica e sustentável, preparando uma geração mais bem equipada para enfrentar os desafios complexos do futuro.
Apesar do otimismo, Wilcock alerta para a necessidade de um avanço responsável. Ele ressalta que a responsabilidade final pelo projeto continua sendo dos profissionais e que as empresas precisam criar métodos seguros para testar e escalar novas ideias.
“Quando combinada com dados de alta qualidade e profundo conhecimento de domínio, a IA pode catalisar um futuro mais inteligente, justo e sustentável”, conclui.