Metano ganha protagonismo na COP30 e fortalece ação para frear aquecimento global

Relatório lançado em Belém mostra que 80% das reduções possíveis até 2030 têm baixo custo

Metano ganha protagonismo na COP30 e fortalece ação para frear aquecimento global

A COP30, encerrada no sábado (22), em Belém, buscou dar protagonismo ao metano nas discussões climáticas. Responsável por 30% do aquecimento global desde a Revolução Industrial, esse gás passou de tema secundário a prioridade nas negociações entre os 159 países signatários do Global Methane Pledge. Durante a conferência, líderes do Brasil, da China e do Reino Unido anunciaram iniciativas inéditas para acelerar cortes nas emissões, em um esforço descrito por participantes como um “freio de emergência climática”.

O metano possui características que o tornam, ao mesmo tempo, uma ameaça e uma oportunidade. Diferentemente do dióxido de carbono, que permanece na atmosfera por séculos, ele se dissipa em cerca de uma década. Essa curta duração permite efeitos rápidos quando as emissões caem, embora seu potencial de aquecimento seja 80 vezes maior que o do CO₂ ao longo de 20 anos. O gás é liberado por fontes naturais — como áreas alagadas — e, sobretudo, por atividades humanas: pecuária, vazamentos na produção de petróleo e gás, manejo de resíduos e uso de biomassa para cozinhar. Esses processos respondem pela aceleração recente das emissões.

O primeiro Relatório Global sobre o metano, lançado na COP30, apresentou números que dimensionam o desafio. As emissões globais atingiram 352 milhões de toneladas em 2020. A projeção indica que chegarão a 369 milhões de toneladas em 2030, aumento de 5%. A consequência seria um acréscimo de 0,025°C na temperatura global até 2050, além de 24 mil mortes prematuras por ano e perdas agrícolas de 2,5 milhões de toneladas até o fim da década.

A meta do Global Methane Pledge, firmado em Glasgow em 2021, prevê o corte de 30% até 2030 em relação aos níveis de 2020. Segundo relatório do PNUMA e da Climate and Clean Air Coalition, as NDCs submetidas até meados de 2025 resultam em queda de 8%, caso implementadas integralmente — seria o maior declínio registrado. “Enfrentar as emissões de metano é uma das formas mais rápidas e eficazes de desacelerar o aquecimento global. A redução do metano funciona como um freio de emergência climático, ajudando-nos a manter o rumo da meta de 1,5°C”, disse Alice Amorim, diretora de programas da Presidência da COP30.

O setor de energia responde por 72% do potencial de mitigação até 2030, seguido por resíduos (18%) e agricultura (10%). Mais de 80% desse potencial pode ser alcançado a baixo custo, com soluções testadas: programas de detecção e reparo de vazamentos, fechamento de poços abandonados, separação de resíduos orgânicos e melhorias no cultivo de arroz. Se colocadas em prática, as soluções mapeadas permitiriam salvar mais de 180 mil vidas por ano e evitar a perda de cerca de 19 milhões de toneladas de alimentos.

O conceito de “superpoluentes” ajuda a explicar a centralidade do tema na COP. Esses gases e partículas — como metano, ozônio troposférico, carbono negro e HFCs — têm curto tempo de vida na atmosfera e forte impacto no aquecimento. São responsáveis por cerca de metade do aumento de temperatura atual e afetam também a qualidade do ar. Reduzir superpoluentes é, portanto, uma estratégia de impacto rápido tanto para o clima quanto para a saúde.

O caso brasileiro

O Brasil apresenta um padrão distinto do cenário mundial. Enquanto a maior parte das emissões globais vem do setor de energia, o país tem na mudança de uso da terra e na pecuária bovina suas principais fontes. Entre os maiores emissores globais, o país ocupa a quinta posição. 

Dentro do setor energético brasileiro, porém, um dado revela uma dimensão social do problema. O Pará lidera o ranking nacional de emissões per capita ligadas ao uso de lenha e carvão para cozinhar. “Isso significa que neste estado se usa muita lenha para cozinhar, ou seja, as pessoas não têm acesso a energia elétrica para ter fogão a gás. É um indicador de pobreza”, afirmou Felipe Barcellos e Silva, pesquisador do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), durante painel na Zona Azul da conferência.

Segundo estudos do IEMA, o estado possui a maior população sem eletricidade de fornecimento público na Amazônia Legal: cerca de 410 mil pessoas. “É importante aumentar a qualidade de vida no Brasil, promovendo também uma transição justa, com acesso à energia para pessoas que, sobretudo no contexto urbano, ainda utilizam lenha para cozinhar. Isso é um indicador de pobreza energética”, disse Barcellos.

Dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) mostram que as emissões brasileiras aumentaram 6% entre 2020 e 2023, distanciando o país do compromisso firmado em Glasgow.

Iniciativas lançadas na COP30

Brasil e Reino Unido anunciaram o “Acelerador de Ação dos Países sobre Superpoluentes”, programa para acelerar reduções de emissões em 30 países em desenvolvimento até 2030. O primeiro grupo — Brasil, Camboja, Indonésia, Cazaquistão, México, Nigéria e África do Sul — receberá um pacote inicial de 25 milhões de dólares.

“Gases de efeito estufa de curta duração, como o metano, têm impacto mais potente no aquecimento global do que o CO₂, mas permanecem na atmosfera por menos tempo. Reduzir suas emissões nos dá a oportunidade de manter a temperatura média do planeta dentro de 1,5°C”, disse Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Clima do Brasil.

O Reino Unido liderou ainda a declaração “Reduzindo Drasticamente as Emissões de Metano no Setor Global de Combustíveis Fósseis”, assinada por Canadá, França, Alemanha, Japão, Cazaquistão e Noruega. O documento estabelece seis ações para acelerar cortes na cadeia de óleo e gás, incluindo eliminação da queima e ventilação rotineiras até 2030.

Foi lançado também o No Organic Waste (NOW) Plan, com compromisso de reduzir em 30% as emissões provenientes de resíduos orgânicos até 2030. A iniciativa pretende recuperar 20 milhões de toneladas de alimentos excedentes por ano e integrar formalmente um milhão de trabalhadores de reciclagem na economia circular.

Apesar de ser responsável por um terço das mudanças climáticas, o metano recebe apenas 1% das finanças públicas e privadas voltadas à mitigação. O documento destaca que as escolhas feitas nos próximos anos podem definir a capacidade global de colher benefícios imediatos — como ar mais limpo e sistemas econômicos mais resilientes — e de reduzir riscos climáticos.