Enquanto Belém se prepara para os holofotes globais da COP30, a poucos minutos de barco, no coração da floresta, a comunidade da Ilha do Combu aguarda a chegada do mundo com uma mistura de esperança e um pedido firme: respeito. Ali, moradores que preservam a tradição ribeirinha não querem apenas mostrar suas belezas, mas provar que são protagonistas de soluções climáticas que nascem da própria terra.
O recado é claro e vem de quem tem uma sumaúma de 400 anos no quintal. “A gente não quer que as pessoas venham para cá e nos atropelem. A gente quer que as pessoas venham para cá e nos visitem, entendam como vivemos, respeitem esse modo de vida”, afirma Prazeres dos Santos, ribeirinha e dona de um restaurante típico que já é um laboratório vivo de sustentabilidade.
No seu estabelecimento, nada de descartáveis. Restos de comida alimentam um biodigestor que gera o gás da cozinha. É a prova de que a bioeconomia, para eles, não é um conceito distante, mas uma prática diária.
De “motosserra” a guardião
A história da ilha é feita de transformações profundas, como a de Charles Teles. Antes conhecido como “o maior operador de motosserra” da região, hoje ele guia turistas pela floresta que um dia derrubou. A mudança veio com a consciência. “Eu via que a floresta estava indo embora, que eu estava perdendo minha saúde. Que exemplo estava dando para meus filhos?”, questiona Charles.
Hoje, ao lado da esposa, ele recebe os visitantes com suco de cacau colhido na hora e compartilha não apenas a cultura local, mas sua própria jornada de redenção. A experiência se completa com um “banho de cheiro”, um mergulho sensorial nas ervas que crescem em seu quintal.
O legado que fica
O conhecimento ancestral é a base de tudo. Dona Geralda, aos 92 anos, ensinou a arte da andiroba para as mulheres do Combu. Juntas, elas transformaram a tradição em uma cooperativa que vende produtos artesanais para todo o país, explicando aos visitantes cada etapa da produção do óleo.
Para a comunidade, a COP30 não pode ser um evento passageiro. A expectativa é que a conferência deixe um legado de turismo consciente, que valorize e fortaleça quem protege a Amazônia o ano inteiro.
“Queremos que esse território seja visto como ele deve ser: não só como um cenário, mas como um lugar de protagonistas de soluções”, resume Ana de Sá, do Comitê de Turismo Sustentável local. “Onde os turistas possam continuar vindo, compreendendo quem são as pessoas daqui, como é a nossa cultura, e fazendo com que isso se perpetue.”