Diante dos desastres climáticos que vêm afetando cidades no Brasil e em diversas partes do mundo nos últimos anos, o governo brasileiro quer levar a adaptação climática dos municípios para a agenda de discussões da COP30 em Belém, e a cúpula global do clima terá pela primeira vez um pavilhão dedicado a explorar as necessidades das áreas urbanas.
“Nós não queremos minimizar a questão da defesa da flora, da fauna, das florestas, mas não dá para a gente só discutir isso. Para além disso precisamos discutir também o tema urbano, e é isso que a gente quer trazer cada vez mais forte a partir de Belém”, disse à Reuters o ministro das Cidades, Jader Filho, que está encabeçando a iniciativa dentro da COP30.
“Nós temos que conter o aquecimento global sob todos os efeitos e os impactos que ele gera, tanto na zona urbana quanto na zona rural, mas mais fortemente nas zonas urbanas. A ciência aponta para eventos climáticos cada vez mais frequentes e cada vez mais fortes, e nós precisamos deixar nossas cidades adaptadas, preparadas quando eles acontecerem”, completou.
A necessidade de adaptação dos países às mudanças climáticas é um dos pontos centrais das discussões da COP30, com o planeta caminhando para ultrapassar o aumento de 1,5 grau Celsius na temperatura. Não há discussão sobre a necessidade de adaptação, mas há uma disputa constante sobre recursos.
Entre a necessidade de preservação de florestas, redução de emissões de gases de efeito estufa e outras medidas para evitar mudanças climáticas ainda piores — e com uma falta generalizada de recursos disponíveis –, a adaptação das áreas urbanas fica, muitas vezes, em segundo plano, na avaliação do ministro.
“Mas é nas cidades que as pessoas vivem. As cidades são as primeiras a sentir os efeitos das mudanças climáticas”, disse Jader.
“Existem algumas fontes de financiamento no mundo, mas dificilmente essas fontes chegam nos municípios menores, nos municípios mais pobres. Precisamos democratizar essas fontes ou quem é rico vai continuar mais rico, porque ele tem acesso às fontes de financiamento. E isso não é só aqui no Brasil, isso é a nível internacional que acontece”, acrescentou.
O ministro citou a necessidade de recursos para programas de macrodrenagem, encostas, descarbonização das frotas de transporte público e saneamento básico, entre outros.
“O governo brasileiro, se a gente comparar com outros países da América Latina, nós temos grandes fontes de financiamento”, disse o ministro. “Mas nós queremos mais, porque o desafio do Brasil é muito grande. O governo brasileiro vai continuar fazendo, mas nós temos que dar oportunidade que estados e municípios tenham outras fontes de financiamento.”
A COP30, que acontecerá em novembro, será a primeira cúpula global do clima em que as áreas urbanas terão um pavilhão exclusivo para discutir os problemas e soluções para as cidades.
“É um pavilhão para que a gente possa discutir o tema urbano nas suas diversas facetas, desde a contribuição que as cidades podem dar na questão da preservação do clima até a questão que, no meu entender, é uma das principais questões que devem ser discutidas na COP, que é o tema da resiliência, da adaptação das nossas cidades”, disse o ministro.