O deputado Aliel Machado (PV-PR), ligado a causas ambientais, defende que Belém do Pará mantenha-se como sede exclusiva da COP30, marcada para o período de 10 a 21 de novembro. Ressalta, sobretudo, o simbolismo da escolha da cidade da Amazônia para sediar a conferência. Segundo ele, a mudança de local não deve ser discutida, pois o evento reforça o compromisso do Brasil com a preservação da floresta e a importância da região para o futuro do clima mundial.
Apesar disso, o parlamentar reconhece dificuldades causadas principalmente pela alta nos preços de hospedagem, que subiram até nove vezes e podem limitar a participação de delegações de países pobres, povos tradicionais e da sociedade civil. Para garantir ampla participação, ele propõe que o governo avalie a criação de pontos de apoio em outras cidades, mantendo Belém como sede principal e buscando soluções para os problemas logísticos. Confira os principais trechos da entrevista:
Deputado, mais de 20 países, incluindo nações ricas e blocos africanos, pressionam o governo brasileiro para mudar a sede da COP30 diante da crise de hospedagem em Belém. Qual sua posição sobre isso? O senhor acha que Belém deve continuar como sede exclusiva?
A realização da COP30 em Belém do Pará é uma decisão estratégica e carregada de simbolismo. Escolher o coração da Amazônia como sede é uma demonstração clara do compromisso do Brasil com a proteção e valorização da floresta, mas também um gesto à humanidade sobre a importância da Amazônia para o futuro climático do planeta. Por isso, defendo que sequer haja discussão sobre mudança de sede para a COP30.
Esses países apontam que os custos elevados e a falta de estrutura podem excluir delegações — especialmente de países pobres, povos tradicionais e sociedade civil. O Brasil corre o risco de organizar uma COP pouco representativa?
É preciso destacar a preocupação legítima sobre os altos preços de hospedagem. É fundamental esclarecer que, no que compete aos governos federal e estadual, todos os investimentos e ações necessárias estão sendo realizados com rigor, além de um trabalho intenso de fiscalização e monitoramento por parte das autoridades brasileiras. No entanto, temos identificado dificuldades provocadas por alguns setores da iniciativa privada, especialmente redes internacionais de hotéis, que têm resistido em fornecer informações claras sobre preços e disponibilidade, impedindo que o governo realize um diagnóstico mais preciso e tome as medidas corretivas necessárias.
Vale destacar que, enquanto nas edições anteriores da COP o preço das hospedagens subiu, em média, três vezes, identificamos que em Belém já há casos em que os preços foram multiplicados por até nove vezes. Essa situação, obviamente, merece nossa atenção imediata.
O senhor preside frentes e participa de grupos ligados à bioeconomia e à transição ecológica. Há alguma articulação no Congresso para ajudar a garantir que a COP aconteça com estrutura e participação amplas?
Como presidente e membro de frentes parlamentares dedicadas à bioeconomia e à transição ecológica, além de integrar o Comitê do Pacto pela Transformação Ecológica, vou provocar que o Comitê Interinstitucional sobre Mudanças Climáticas seja instalado nos próximos dias com o intuito de se debruçar sobre o tema. Se for necessário, entendo que o Comitê possa sugerir soluções práticas como manter Belém como sede principal da COP30, mas criar um ponto adicional de apoio em uma capital próxima ou mesmo no Rio de Janeiro para ajudar a reduzir a pressão hoteleira em Belém, garantindo maior acessibilidade às delegações estrangeiras, especialmente aquelas de países mais vulneráveis e povos tradicionais, fundamentais para o caráter representativo do evento.
A escolha de Belém carrega um simbolismo forte, por ser na Amazônia. Como transformar esse simbolismo em ação concreta e compromisso político dentro e fora do Brasil?
Reconhecemos a carga simbólica em cima da escolha de Belém, mas é fundamental ir além deste simbolismo. Precisamos avançar em ações concretas e compromissos políticos claros e duradouros. A COP30 precisa se tornar um marco para a preservação da Amazônia. E é neste sentido que estamos trabalhando.
O senhor foi relator do projeto de regulamentação do mercado de carbono — um tema central nas negociações climáticas. Como o Brasil pode usar esse marco como trunfo na COP30? Há algo em curso para apresentar esse avanço lá fora?
Como relator desta importante lei, me sinto confortável em afirmar que o Brasil tem um papel fundamental de liderança global nos esforços para enfrentar a mudança climática. O Mercado de Carbono é um exemplo concreto de como os países podem lidar com suas emissões de CO2 e equivalentes na atmosfera. Estamos mostrando para o mundo que desenvolvimento econômico pode caminhar junto com sustentabilidade e a COP30 será o palco onde iremos mostrar que é possível avançar em legislações como esta.
O senhor integra o Comitê do Pacto pela Transformação Ecológica. Que entregas esse grupo pretende fazer até novembro? A COP30 está no centro dessas discussões?
O Comitê do Pacto pela Transformação Ecológica tem como objetivo apresentar até novembro um conjunto de ações concretas que possam ser levadas à COP30, fortalecendo o compromisso brasileiro com a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável. Estamos trabalhando especialmente em propostas relacionadas à bioeconomia, ao mercado regulado de carbono e ao fortalecimento de políticas para transição energética. Nosso objetivo é apresentar resultados claros e compromissos robustos durante o evento.