‘Precisamos agir no clima e proteger florestas juntos’, diz coordenador do Greenpeace

Na COP30, Rômulo Batista defende que eliminar fósseis e proteger a Amazônia devem avançar simultaneamente para frear o aquecimento global

Tuane Fernandes / Greenpeace
Foto: Tuane Fernandes / Greenpeace

Com a mensagem “Ação, Justiça, Esperança” em seu mastro, o navio Rainbow Warrior chegou a Belém no início de novembro com lideranças indígenas a bordo. Entre eles, o Cacique Megaron, que declarou: “nós, povos indígenas, somos os verdadeiros responsáveis por manter a Amazônia e outros biomas em pé. As terras indígenas são a solução mais eficaz para proteger a natureza e enfrentar a crise climática”. A embarcação atracou na Universidade Federal do Pará (UFPA) e marcou a inauguração do Trapiche Ribeirinho.

Rômulo Batista, coordenador da Frente de Soluções da Floresta do Greenpeace Brasil, vê a conferência como um ponto de virada necessário. “Só será possível manter o aquecimento do planeta em 1,5ºC e evitar tragédias climáticas se o mundo avançar, ao mesmo tempo, na eliminação dos combustíveis fósseis e na proteção das florestas”, afirma. A COP30 reúne mais de 50 mil visitantes na capital paraense entre 10 e 21 de novembro.

O Rainbow Warrior, inaugurado em 2011 e financiado por mais de 100 mil doadores, já navegou 322 mil quilômetros por 55 países. Seu nome vem de uma profecia indígena do povo Cree. Em 1985, o primeiro navio foi afundado pelo serviço secreto francês na Nova Zelândia e resultou na morte do fotógrafo Fernando Pereira.

“Os territórios indígenas são, comprovadamente pela ciência, os ambientes mais bem preservados do planeta”, ressalta Batista, enfatizando que a organização trabalha há décadas com povos indígenas, reconhecendo-os como detentores de conhecimentos ancestrais sobre as florestas.

Para ele, a conferência em Belém deve alcançar avanços decisivos para frear o desmatamento e ampliar o financiamento direto para povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. “Mas nas futuras COPs essas garantias devem ser ampliadas e a demarcação das terras indígenas deve ser incluída nas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas)”, defende.

Expectativas e desafios para Belém

As expectativas de Batista são múltiplas: responsabilizar grandes poluidores, promover transição energética justa, garantir financiamento climático público e respeitar as florestas com seus povos.

Ele aponta a lacuna entre discurso e prática. Em Dubai, em 2023, quase 200 países concordaram em triplicar as energias renováveis e fazer a transição para longe dos combustíveis fósseis. “O que falta é um plano de implementação global. Em Belém, esperamos que os países aprovem um plano de ação florestal de cinco anos, com metas, monitoramento e financiamento adequado para o desmatamento zero em 2030”, critica.

Por exemplo, a meta de acabar com o desmatamento até 2030 foi estabelecida na conferência anterior, mas carece de mecanismos concretos. “A COP30 tem a oportunidade de reequilibrar a agenda climática, colocando natureza e floresta no mesmo nível de prioridade de energia e combustíveis fósseis”, avalia.

O problema central, segundo ele, é a insuficiência dos compromissos atuais. “As contribuições nacionais não colocam o mundo na rota de 1,5ºC. Por isso, a expectativa é que Belém entregue um plano de resposta global, com metas claras para acelerar as ações nessa década crítica”, alerta.

A questão do financiamento é estratégica. “Sem novas fontes de financiamento público, especialmente de países desenvolvidos, não haverá capacidade de cumprir metas de mitigação, adaptação e proteção de florestas. Espera-se que os países avancem com mecanismos de financiamento, com recursos acessíveis para países em desenvolvimento e comunidades que já lidam com impactos da crise climática”, explica.

Batista reforça que as soluções devem vir acompanhadas de justiça para “aqueles que menos contribuíram para as mudanças climáticas: povos indígenas, populações tradicionais, pescadores artesanais, população preta e periférica”.

Após o reconhecimento em Dubai sobre a necessidade de transitar para longe dos combustíveis fósseis, ele defende que cabe à conferência em Belém avançar na definição de princípios para essa transição justa, “envolvendo emprego, energia limpa, proteção social e participação popular.”

“Coletivamente, é possível virar o jogo e pressionar os líderes globais para uma ação concreta que nos faça ter esperança de um futuro mais verde e justo”, conclui Batista.